ENTREVISTA! Zico, o craque empreendedor que se reinventa sem perder a essência
Ídolo do Flamengo e empresário de cerveja
Zico, agora é marca de cerveja (Foto: O Dia) |
ZICO APOSENTOU as chuteiras, mas nem os seus 65 anos muito bem vividos como eterno ídolo do Flamengo o impedem de trabalhar duro diariamente. Atualmente, o famoso Galinho de Quintino continua mantendo sua agenda sempre lotada. Mas o campo de futebol deu lugar ao empreendedorismo e a novas vertentes profissionais. Recentemente o ex-camisa 10 rubro-negro lançou uma marca de cerveja que leva seu nome. Além disso, ele dá palestras, produz conteúdo para o Youtube, trabalha como comentarista de futebol na TV, faz campanhas publicitárias e ainda consegue tempo para jogar suas peladas e curtir os netos como se não houvesse o amanhã. Ufa, haja disposição!
O DIA - Zico tem muitas faces profissionais e agora também é uma marca de cerveja. Como surgiu a ideia desse projeto?
ZICO - Hoje a gente tem os clubes de cervejas, e eu fui procurado por um que tinha tido algumas experiências nesse sentido. Eles queriam colocar uma cerveja com meu nome, então foi criada a 'Zico Art Beer'.
Elas são artesanais?
Sim. A cerveja artesanal às vezes é um pouco mais forte para muitos, e tem cervejas normais que são leves. Então eu fiquei no meio termo. Provei algumas e escolhi a que ficasse nesse meio termo. O pessoal tem provado e gostado. A gente já fez dois lançamentos e está indo bem.
Qual o diferencial do seu produto?
Vamos ter como se fosse um 'pay-per-view' de televisão, que é um clube de assinantes e só esse pessoal que é assinante que vai ter a cerveja. Ela não será vendida comercialmente. Quem for assinante vai receber duas, e tem algumas ações que serão feitas, como rótulos diferentes de acordo com ações relacionadas a minha história, como por exemplo 'Campeão da Libertadores', 'Gol de Falta'... O assinante também vai ter a possibilidade de na hora em que estiver recebendo, ser eu a pessoa a entregar o produto. Vai ter brinde para vir ao Rio (no caso da pessoa ser de fora), poder almoçar comigo e visitar as instalações do Flamengo. No pacote vem direito a brindes do meu e-commerce também... Tem uma série de ações que podem acontecer durante o ano.
Você levantou o futebol profissional no Japão, digamos assim. Você ainda faz muitas visitas por lá?
Eu ajudei no desenvolvimento profissional do futebol no Japão. Continuo visitando lá, tanto é que em maio completa 20 anos do futebol profissional, então eu vou lá para ser homenageado.
Como lida com o fuso?
É tranquilo. A gente vai ficando velho e dorme em qualquer lugar, a qualquer hora. O importante é quando ter sono e conseguir dormir. Mas por ser 12 horas de diferença não afeta muito na alimentação, pelo menos. Nos dois primeiros dias é tranquilo, mas se a gente vai para ficar mais tempo, no terceiro para o quarto dia que é complicada a adaptação, porque acaba acordando às 2 da madrugada e perde o sono. Mas a gente tem algumas táticas que ajudam, como resistir ao sono logo que a gente chega por lá na parte da tarde (que é o horário que estamos dormindo aqui), e então a gente aguenta o máximo até de noite para não acabar acordando tão cedo.
Seus filhos arriscaram ser jogadores de futebol. Na sua opinião, o quanto "ser filho do Zico" atrapalhou a carreira deles?
Atrapalhou com certeza. As pessoas confundem muito e olham o menino como se tivesse olhando o pai. E não é toda profissão que exige isso, principalmente quando esse pai chega ao ápice. Eu nunca pedi que eles fossem jogadores, mas sempre disse que eles seriam cobrados mais do que qualquer outro jogador que não seja filho do Zico. Sempre disse que eles jogam, tem participação, mas sempre serão vistos de forma diferente. Serão sempre atração mesmo sem ter feito nada. O jornalista por exemplo, vai fazer a entrevista mesmo sem ele merecer. Se ele não fez nada, por que vai fazer a entrevista com ele? Só porque é filho do Zico? Então já chama atenção por aí, porque a entrevista tem que ser feita de acordo com o resultado dele dentro do campo e não por ser filho do cara famoso. Já começa o erro por aí.
Como é o dia a dia como avô, pai e marido? Quanto os compromissos profissionais atrapalham você de ser e fazer tudo o que desejaria com eles?
Hoje eu separo o sábado e domingo para mim. Não trabalho nesses dias. Meus netos vêm sempre aqui pra casa e eu estou com eles nos fins de semana. Quando posso vou na escola buscar um ou outro. No meu dia a dia procuro tempo para treinar pela manhã, jogo minha pelada toda quarta à noite, e tem o programa da televisão, jogos que eu comento e costumo ir sempre ao CFZ na parte da tarde. Eu também dou palestras nas empresas, tenho meu canal no Youtube, então não tenho muito uma rotina. O que eu procurei fazer é não colocar nenhum dos meus compromissos profissionais para os fins de semana para ficar em casa com os meus netos.
Falando no seu canal no Youtube, você se imaginava fazendo isso na sua atual fase?
Foi um projeto inesperado que eu abracei e vi que dava pra fazer com tranquilidade. Não me desgasta muito e eu fiz um grande hall de amizade ao longo da minha carreira. Então os meus convidados sabem que não é para se criar uma polêmica, e sim mostrar apenas curiosidades que eles muitas vezes não falam, além das histórias de início de carreira. Então são coisas engraçadas e saudáveis de se fazer. Estou curtindo bastante.
Você hoje mora na Barra. Que falta Quintino faz na sua vida?
De vez em quando eu vou em Quintino porque meus irmãos moram lá ainda. Mas como minha vida é bem atribulada e acaba sendo tudo por aqui (na Barra), às vezes não dá muito para ir lá. As coisas que eu fazia lá em Quintino quando criança, hoje já não existem mais. Não tem mais campo de pelada. Hoje é um bairro mais de passagem. Meus amigos também se mudaram de lá, então eu vou mais quando tem alguma coisa na casa dos meus irmãos, ou quando o pessoal quer fazer uma entrevista sobre a minha vida lá.
Tem muitos torcedores de times adversários que se identificam com você. Existe assédio por parte deles? Como você lida com isso?
Com muita tranquilidade. Isso é sinal que meu trabalho foi bem feito, porque eu sempre respeitei meus adversários e eu acho que isso é importante, porque o clube, a identidade e os torcedores estão sempre em primeiro lugar. Eu os encarava apenas como adversários e não como inimigos. Então eu acho que toda essa minha conduta profissional fez com que os adversários tenham muito respeito. E eu não tenho problema nenhum em assinar as camisas de outros times. Os torcedores fazem questão de dizer que não são Flamengo, e que torcem para o Vasco, Botafogo ou Fluminense, e mesmo assim me admiram muito. Isso é sinal de que todos os esforços na minha trajetória valeram a pena.
Qual foi a sua pior atitude enquanto jogador de futebol? De qual ato em campo você mais se arrepende?
Tem várias. Fiz algumas besteiras dentro do campo. Normal! Fui expulso dando cotovelada em jogador, cuspindo na bola... No clima quente a gente acaba fazendo besteiras, mas fui punido corretamente e pronto. Acho que o importante é isso.
Zico é a personalidade mais identificada com o clube de todos os tempos. Como sua família encara sair com você na rua?
Com tranquilidade. Já acostumaram e ficam felizes em ver o carinho das pessoas comigo mesmo depois de tanto tempo sem jogar. As crianças às vezes que não entendem bem, porque acabam vendo outras crianças vindo até nós para poder tirar fotos e eles ficam meio enciumados, mas é normal.
Se você fosse o mandatário do futebol brasileiro com poderes ilimitados, que mudanças você implantaria para o bem do futebol brasileiro?
Um calendário mais racional. Por exemplo, quando a Seleção Brasileira jogasse não tivesse nenhum outro campeonato em andamento para que se valorizasse ainda mais a nossa Seleção. Procuraria fortalecer cada vez mais os clubes, porque eles que dão vida ao futebol. Faria um colégio eleitoral mais amplo que tivesse uma maior participação do meio do futebol na CBF, onde a política não sobressaísse ao futebol, e que o futebol pudesse realmente gerenciar o próprio futebol e as pessoas ligadas a ele.
O que é mais nocivo no futebol para o jogador profissional nos dias de hoje? E o que é mais benéfico para ele?
O mais nocivo é a violência. O futebol é alegria, diversão. É duro você ver um lance como aquele do Vasco em cima do Botafogo em que o jogador fraturou a perna. Mais benéfico é usar toda magia do futebol que encanta o torcedor, o drible, a bela jogada...
Existe um mundo do futebol que muita gente desconhece e que é tão fascinante quanto a elite: a base, os campeonatos de divisões inferiores, o futebol feminino... Como chamar a atenção do público para isso?
A mídia dar mais atenção. Mas também é preciso que se faça um plano de mídia com identidades, os clubes, para que todos os torcedores saibam o que está acontecendo. As federações, a própria CBF, isso tudo tem que ser feito junto para a valorização do futebol, seja ele amador, feminino, de base ou profissional.
Por que o futebol é tão fascinante? Por que outros esportes não conseguem rivalizar com o futebol?
Talvez porque seja o que traga mais emoção. É uma modalidade que todo mundo pode jogar, seja pobre, rico, alto, baixo, negro, branco, religioso, não religioso... É um esporte que engloba muita gente, com pelo menos 22 jogadores. Então no mundo isso tudo foi gerando esse fascínio.
De O Dia
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