OPINIÃO! Rui Leitão enaltece altivez de Lula em depoimento à juíza da Lava Jato
Não abro mão de falar o que penso
Escritor Rui Leitão (Foto: Da Net) |
O que poderia ser um acontecimento rotineiro dos ritos processuais jurídicos torna-se um evento que chama a atenção do mundo inteiro quando envolve o ex-presidente Lula. Na última quarta-feira estava ele novamente sendo observado pela grande mídia brasileira, a imprensa internacional e por muitos dos brasileiros, tanto os que o admiram, quanto os que o odeiam, por ocasião do interrogatório a que estava sendo submetido na Justiça Federal do Paraná. Seria, então, um ato banal em qualquer ação penal, se o réu não fosse o maior líder popular deste país em toda a sua história, respeitado por grandes personalidades do mundo.
O interrogatório de Lula sempre se transforma num show midiático, onde o principal representante da justiça, tem o domínio da situação e define o script, de forma a que apareça como autoridade suprema, quase um semi-deus. Alguns tentam brilhar na luminosidade de Lula, ainda que ele esteja ali na condição de acusado do cometimento de crimes de corrupção, embora as provas jamais tenham sido apresentadas. E ai de quem cobrar publicamente essas provas, leva uma grave reprimenda.
Fiz questão de assistir, na íntegra, a gravação em vídeo do interrogatório de quarta-feira passada, presidido pela juíza que substituiu o magistrado que resolveu ser ministro do governo Bolsonaro. O espetáculo teve apenas a mudança de um dos atores, mas o procedimento foi o mesmo, ou talvez até um pouco mais ríspido por parte da magistrada. Afinal de contas, era aquela a grande oportunidade dela se tornar estrela. A ideia, repetia-se, era colocar de um lado os mocinhos (magistrado e promotores), do outro o “bandido”. Claro que os “mocinhos” ficariam na cômoda posição de atacar, sem permitir sequer que o “bandido” ensaiasse qualquer reação de defesa com a estratégia de contra atacar. A repreensão em tom de ameaça se fez valer em várias oportunidades. A teatralização de um julgamento que já se sabe por antecedência o resultado. É impressionante o excesso de poder e discricionariedade que alguns juízes no Brasil vêm exercendo.
É normal que o acusado, pressionado, mostre sinais de desconforto. Lula, todavia, em que pesem os sete meses de encarceramento, não se mostrou, em nenhum momento, uma pessoa frágil, vencida pelo sofrimento de uma prisão. Revelou-se digno da sua biografia, um líder que não se curva diante da força dos que se julgam poderosos. Apresentou-se como alguém que continua a cobrar a verdade das acusações, que são sempre colocadas em convicções sem provas.
Ao findar o interrogatório fiquei ainda mais impressionado com o carisma desse personagem da nossa história. Minha admiração por ele, que já era grande, foi aumentada. Ele não se acovarda perante as ameaças, não se posta como um submisso diante dos que se imaginam superiores, não perde o seu semblante de coragem quando enfrenta adversários que se transformam em inimigos gratuitos. Ele não decepciona os que o encaram como líder.
Sei que essa manifestação individual vai irritar muita gente. Inclusive algumas pessoas da minha convivência íntima (parentes e amigos). Entretanto, se existe uma coisa que quero preservar na minha vida, é a liberdade de exprimir o que sinto, sem ser monitorado ou patrulhado por ninguém, ou pelo receio de causar desagrado a pessoas que gosto. Uma coisa não tem nada a ver com outra. O amor ou amizade que devoto a essas pessoas não sofrem qualquer prejuízo em razão das divergências políticas que temos. O que me provocaria profundo incômodo era me manter em silêncio quando sinto a necessidade de falar o que penso.
Rui Leitão (jornalista e escritor)
Em 16.11.18, às 19h29
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