Caixas misteriosas achadas em praias do NE podem ser de navio da 2ª Guerra
Caixas seriam de um navio alemão naufragado em 1944, durante a Segunda Guerra Mundial, no Litoral de Pernambuco
Exemplar de uma das caixas (Foto: Divulgação/Labomar/Marcos Davis) |
Pesquisadores do Instituto de Ciências do Mar (Labomar) da Universidade Federal do Ceará (UFC) podem ter descoberto o local de origem das caixas misteriosas que apareceram em diversas praias do Litoral Nordestino, inclusive na Paraíba. As caixas seriam de um navio alemão naufragado em 1944, durante a Segunda Guerra Mundial, no Litoral de Pernambuco.
O ponto de partida para a descoberta foi uma inscrição que havia em uma das caixas, encontrada em julho deste ano em uma praia de Itarema, a cerca de 200 quilômetros de Fortaleza, indicando que o material provinha da Indochina Francesa.
Esse território, situado nos atuais Vietnã, Laos e Camboja, era uma colônia da França, mas durante a Segunda Guerra foi dominado pelos japoneses, que, juntamente com alemães e italianos, compunham o bloco conhecido como Eixo.
“Esse produto era antigo, provavelmente de um naufrágio. Através dessa marcação [na caixa], fizemos uma pesquisa histórica e conseguimos identificar um cargueiro, chamado Rio Grande, que tinha uma carga de borracha com as inscrições referentes à Indochina Francesa”, explica o professor Carlos Teixeira, um dos responsáveis pela pesquisa.
De posse das informações, os pesquisadores consultaram um banco de dados americano sobre naufrágios no Atlântico Sul durante a Segunda Guerra e descobriram que o navio que transportava a caixa foi afundado em 1944. Os sobreviventes conseguiram sair em pequenos botes, depois desembarcaram em Fortaleza e foram presos na 10ª Região Militar. O navio foi encontrado em 1996, a cerca de 5.700 metros de profundidade.
Para dar respaldo ao levantamento histórico, os pesquisadores então uma simulação numérica computadorizada. Nessa simulação, são liberadas partículas a partir do lugar onde o navio afundou. O resultado mostra que essas partículas chegam exatamente ao litoral nordestino, reforçando a tese de que a antiga embarcação é a fonte das caixas vistas em várias praias desde o fim de 2018.
Na simulação, são considerados fatores como direção das correntes marítimas, temperatura, salinidade e ventos. Com isso, é possível saber de onde os materiais vêm e para onde eles estão sendo transportados pelas correntes.
Caixas misteriosas pelo mundo
O professor Luis Ernesto Bezerra, também responsável pelo estudo, argumentou que casos parecidos já ocorreram em outras partes do mundo. Um dos mais recentes se deu em 2012, quando muitas caixas surgiram em praias de alguns países europeus. Inicialmente, pensou-se que elas provinham do famoso Titanic. Posteriormente, porém, as pesquisas revelaram que a origem era um navio japonês afundado em 1917, na Primeira Guerra Mundial.
Outro item que ainda está sendo pesquisado e pode fornecer mais informações sobre a origem do material são as cracas (crustáceos que vivem em alto mar e vão se prendendo às superfícies que ficam à deriva) encontradas nas caixas.
“Isso é um indício de que as caixas vieram de alto mar e não de um local próximo à costa. Pelo tamanho das cracas, é possível saber há mais ou menos quanto tempo elas estão presas nas caixas. Ainda estamos aprofundando esses estudos de crescimento das cracas, mas elas estão lá há pelo menos três ou quatro meses, que é o tempo durante o qual essas caixas devem estar flutuando, pois as cracas só ficam na superfície”, descreve Luis Ernesto. Também está sendo analisado o DNA das cracas, para saber de onde essas espécies são.
Óleo em praias
Ainda segundo os pesquisadores, há uma hipótese de que o mesmo navio seja a origem das manchas de óleo que têm chegado a diversas praias do Nordeste, uma vez que elas apresentam rota parecida com a que foi possivelmente percorrida pelas caixas.
Porém, estudos de outro tipo são necessários para realizar essa verificação. Também participante da pesquisa, o professor Rivelino Cavalcante está coletando diversas amostras do óleo em praias cearenses. Elas serão enviadas a um laboratório nos Estados Unidos especializado nesse tipo de material, a fim de determinar pontos como característica, idade e origem geográfica.
Do Portal Correio
Publicada por F@F em 10.10.19, às 15h43
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