Lula inicia governo com 41% de avaliação positiva, diz pesquisa Ipec
Presidente supera Bolsonaro, mas não empolga como em outros mandatos
Presidente Lula (Foto: Ricardo Stuckert/PR) |
Em março de 2019, Bolsonaro era avaliado positivamente por 34% da população, sete pontos percentuais a menos do que Lula — 24% reprovavam o então presidente. O melhor momento de Bolsonaro na Presidência foi logo em seu primeiro mês de mandato, em janeiro de 2019, quando tinha a aprovação de 49%. Depois disso, o máximo que atingiu foi o patamar de 40% de avaliações positivas, em setembro de 2020, fruto direto do auxílio emergencial pago na pandemia.
Apesar de superar o adversário, Lula está aquém de seus dois mandatos anteriores, o que mostra o desgaste do petista após a Operação Lava-Jato e a necessidade de o governo se esforçar para conquistar a opinião pública. Lula chegou a ter 51% de ótimo e bom em março de 2003, quando governou o país pela primeira vez. Naquele momento, a reprovação era de apenas 7%. Ao fim do mesmo mês de 2007, logo após a reeleição, o petista tinha o endosso de 49% da população, contra 16% que o achavam ruim ou péssimo.
De acordo com a CEO do Ipec, Márcia Cavallari, o patamar de avaliações positivas pode ser considerado satisfatório, especialmente quando se põe uma lupa sobre os entrevistados que disseram considerar a gestão regular. Dentre os 30% que têm essa percepção, metade diz aprovar a maneira como Lula governa, enquanto 37% não concordam com os métodos do petista:
— A pesquisa mostra que a polarização política continua. Considerando esse cenário, que é distinto do que o Lula encontrou nos outros mandatos, ele começa num bom patamar — diz Cavallari, acrescentando que os dados são um espelho do que se via na eleição. — Os segmentos que aprovam o governo são os mesmos nos quais Lula tinha uma intenção de voto maior: as pessoas que estudaram só até o ensino fundamental, os moradores do Nordeste, aqueles com renda de até um salário mínimo por mês e os católicos.
Parte significativa das pessoas que compõem o grupo do “regular” declara ter votado em Bolsonaro no segundo turno de 2022. Entre quem diz ter apoiado o ex-presidente, 36% avaliam agora a gestão do petista como regular, e 54% a reprovam. Já entre os que falam que votaram em Lula, 77% veem o governo como bom ou ótimo, e 22% o classificam como regular.
A pesquisa mostra que o Nordeste, única região onde Lula foi o mais votado no segundo turno contra Bolsonaro, é o lugar em que o petista tem seu maior percentual de aprovação (53% de ótimo ou bom). Foi também onde ele conseguiu eleger governadores de seu partido: Elmano de Freitas (Ceará), Jerônimo Rodrigues (Bahia), Fátima Bezerra (Rio Grande do Norte) e Rafael Fonteles (Piauí).
A maior rejeição ao governo está no Centro-Oeste e no Norte: são 31% os que reprovam a atual administração. No Sudeste, onde vivem quatro em cada dez brasileiros, 36% têm percepções positivas, contra 26% que pensam o oposto.
As avaliações do governo Lula 3 estão longe das expectativas captadas em janeiro pelo instituto fundado por ex-executivos do Ibope. Na ocasião, 55% diziam acreditar que o presidente faria uma gestão boa ou ótima, e 21% esperavam pelo pior.
Lula tem pressionado os ministros a acelerarem ações para ter o que mostrar quando o governo chegar à marca dos cem dias, em abril. Os primeiros meses no Palácio do Planalto, porém, foram conturbados. Já no oitavo dia do ano, a invasão de extremistas às sedes dos três Poderes obrigou o presidente e sua equipe recém-empossada a direcionar esforços na busca de restabelecer a normalidade no país.
Na economia, o petista enfrenta a desconfiança de uma parcela do empresariado, cenário reforçado após Lula atacar o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, em função da taxa de juros — o petista também se queixou da autonomia da instituição, aprovada pelo Parlamento ainda na gestão Bolsonaro. No Congresso, onde não tem uma base sólida, o Planalto tem negociado com o Centrão e aberto espaço para essas legendas por meio da ocupação de cargos.
Segundo o Ipec, o modo de governar do presidente tem a aprovação da maioria da população (57%). E cerca de um terço dos brasileiros (35%) não concorda com o jeito como Lula conduz o país. Quando deixou o poder, no fim do ano passado, Bolsonaro tinha o modo de governar aprovado por 46%, e 50% discordavam de seus métodos de gestão.
O início do governo Lula expõe a dificuldade de aceitação no segmento evangélico, em que tem números piores aos de sua média geral. Nesse grupo, que corresponde a mais de um quarto da população, são 31% os que avaliam a gestão petista como boa ou ótima, 32% os que a veem como regular, e 32% os que a classificam como ruim ou péssima.
Na comparação com os católicos, a diferença é ainda maior: 45% dos seguidores dessa religião aprovam o governo, e 21% desaprovam. Outros números da pesquisa realizada pelo Ipec mostram a resistência que o presidente enfrenta na comunidade evangélica. Só 39% das pessoas que declaram seguir essa religião afirmam confiar em Lula, enquanto 58% falam que não confiam. Na população em geral, 53% acreditam e 43% desconfiam do presidente.
Reflexos da eleição
O rechaço dos evangélicos a Lula reflete ainda o período eleitoral, quando Bolsonaro, apoiado por pastores, fez ampla campanha contra o petista entre os fiéis. O antigo ocupante do Palácio do Planalto deixou a Presidência com alto índice de aprovação da comunidade evangélica: 50% elogiavam sua gestão (11 pontos percentuais acima da média geral), contra 23% que a criticavam (13 pontos abaixo da média).
Apesar de ficar abaixo do panorama global, a avaliação que os evangélicos têm do governo Lula deve ser vista pelo presidente como um dado positivo, segundo analisa Pablo Ortellado, professor do curso de Gestão de Políticas Públicas da USP e colunista do GLOBO:
— É preciso enxergar o copo meio cheio: a avaliação positiva está próxima da média geral, não destoou muito. Então é um bom número para o Lula. Acredito que haja aí uma situação de pêndulo, em que por um lado o fato de ser evangélico empurre a pessoa a simpatizar mais com o Bolsonaro, mas sua condição social e a lembrança da bonança nos governos anteriores do Lula a empurre para o atual presidente.
O início do terceiro mandato de Lula também foi marcado por ações com foco na população de baixa renda. Com o apoio da nova gestão, o Congresso aprovou no fim do ano passado a PEC da Transição, que abriu espaço no Orçamento para garantir o Bolsa Família de R$ 600, a verba de programas como o Farmácia Popular e o aumento real do salário mínimo. Nesses dois meses e meio, Lula também relançou o Minha Casa, Minha Vida, que vai privilegiar a Faixa 1, voltada para famílias mais pobres.
Os esforços para o segmento mostram resultados na avaliação do governo. Metade dos brasileiros que ganham até um salário mínimo classifica o governo Lula como bom ou ótimo. Já na parcela mais rica da população, com ganhos mensais acima de cinco salários mínimos, a taxa de aprovação cai para 38%.
A pesquisa do Ipec realizou entrevistas presenciais com 2 mil pessoas de 16 anos ou mais em 128 municípios do país entre os dias 2 e 6 de março. A margem de erro máxima estimada é de dois pontos percentuais para mais ou para menos, para um nível de confiança de 95%.
Do Extra Globo com ClickPB
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